A História antes de 1820?

Até pouco tempo, o conhecimento da História de Alegre se restringia à chegada da expedição de Manoel Esteves de Lima, em 1820. Entretanto, o Instituto Histórico e Geográfico de Alegre (IHGA) vem trabalhando incansavelmente na busca de fatos que comprovem a tese de que antes dessa data, outros desbravadores já haviam passado pela região e deixado suas marcas.

O trabalho RECONSTRUINDO NOSSA HISTÓRIA, do IHGA, nos leva de encontro ao passado e às pessoas que interagindo nos acontecimentos marcaram o perfil de nossa terra com seu trabalho, coragem e valor.

Reconstruindo nossa história

Estimulados pela coroa portuguesa prometendo honrarias e prêmios aos descobridores de metais preciosos, audazes bandeirantes, desde os primórdios de nossa história colonial saíram em busca das lavras de ouro. Pela rota conhecida como Caminho Velho, Fernão Dias Paes Leme, entrando pela garganta do Embaú (provavelmente Taubaté hoje ) após transpor a Mantiqueira chegou ao rio das Mortes, onde fundou um arraial, hoje cidade de São João D’el Rey.

As dificuldades de locomoção pelo caminho velho levaram a coroa portuguesa a autorizar a abertura de um caminho novo para as Minas. Coube ao desbravador Garcia Rodrigues Pais (filho de Fernão Dias) a incumbência de abri-lo. Iniciando-se pelo Rio de Janeiro a rota cruzava o rio Paraíba, demandando aos núcleos mineradores de Vila Rica (Ouro Preto) e Ribeirão do Carmo (Mariana) localizadas nas cabeceiras do Rio Doce.

 

Margeando o Caminho Novo situava-se o sertão para a parte do Leste, denominados Áreas Proibidas e, assim conhecidas, por servirem de barreira natural ao contrabando do ouro.

Senhores absolutos da região que se estendia do alto Rio Doce até os vales do Rio Pomba, hordas de Botocudos atacando de emboscada à noite, com suas flechas farpadas, apavoravam o invasor. Destruíam e incendiavam povoados, matando e comendo sem piedade o sertanista que se aventurasse por seus domínios.

Até a década de 30 dos 1700, o ouro foi abundante nos núcleos mineradores do alto Rio Doce; conheceram ligeiro declínio na década dos 40, decaindo francamente a partir de 1763. No inicio do Séc. XVIII, afrouxando – se a política protetora sobre as Áreas Proibidas, iniciou-se a catequese.

Em 1808 o Príncipe Regente D.João VI criou a junta Militar de Civilização dos Índios, tendo por escopo o devassamento dos rios Caratinga e Manhuaçu – bacia do Rio Doce – e rios Carangola e Muriaé na bacia do Pomba (foto à esquerda).

Por carta régia de 29 de maio de 1809 foram nomeados os primeiros comandantes, em número de seis, com o posto de Alferes, agregados ao regimento de Cavalaria de Minas Gerais, para atuarem nas divisões militares que obstassem os ataques dos índios no Rio Doce (Daemon, p 210). Um desses militares foi o Alferes da Segunda divisão de Caçadores João do Monte da Fonseca.

I – O SERTÃO DO ITAPEMIRIM

Do vale do Pomba, uma tira de selva muito estreita nas imediações de Mar de Espanha, se alargando para o Norte juntava-se à imensa floresta capixaba.

E a mata impenetrável, a estender-se por vales e montanhas cobrindo os flancos e os cumes das serras do Caparaó, Pilões, Pombal e Castelo, formando uma barreira natural ao povoamento do sul da capitania do Espírito Santo.

Em 1811, após a liberação das áreas proibidas ao comércio e ao tráfego, João do Monte da Fonseca iniciou a abertura de um picadão ligando Mariana – MG à confluência do Rio Castelo com o Itapemirim.

II – O CAMINHO

Todo o trajeto, desde a saída de Mariana até Itapemirim

Partindo do descoberto do Furquim (Mariana) João do Monte da Fonseca e sua gente chegou ao Rio Carangola.

Pela margem direita, na distância de duas léguas, atravessaram o dito Rio independente de ponte, por ser vadiável. Media o caminho de Furquim ao Carangola a distância de 11 léguas e 15 cordas.

Seguindo o mesmo rumo os desbravadores, chegaram ao Rio São João (hoje Espera Feliz ) e continuando na mesma direção atravessaram o Rio Preto (Dores do Rio Preto). Tinha a passagem do Carangola ao Rio Preto a distância de 6 léguas, 1 quarto e 30 cordas.

Continuando no mesmo rumo do nascente, na distância de 3 léguas e meia e 46 cordas, atravessaram o rio São Lourenço (rio Veado) que segundo a tradição que corre, se une ao Preto e forma o rio Cabapuana (Itabapoana).

Continuando na mesma direção atravessaram um monte (serra dos Pilões) e encontraram as cabeceiras do ribeirão que foi denominado Alegre, e que faz barra com o Itapemirim, e vem do Norte. Ali foi fincado um quartel de caçadores (antigo Leite Glória). E tem a distância do rio Veado à barra do Rio Norte, (quartel dos caçadores) a medida de 5 léguas.

Continuando o caminho pela direita do rio Itapemirim, passam pela barra do rio Castelo (Duas Barras) que vem do Norte, até encontrarem o caminho aberto para a Vila do Itapemirim.

Em 14 de abril de 1815, o Capitão do Corpo de Pedestre da Província do Espírito Santo, Ignácio Duarte Carneiro, informou ao Governador Francisco Alberto Rubim que, no dia 1º do corrente, chegou ao Itapemirim (Vila) vindo da cidade de Mariana pela trilha feita por João do Monte da Fonseca, uma tropa com doze bestas carregada com 45 arrobas de toucinho, 40 ditas de carne seca de 18 de tabaco e fumo.

III – A BANDEIRA DE MANOEL JOSÉ ESTEVES DE LIMA

Por volta de 1820, tomado pelas possibilidades de exploração das margens da estrada e utilizando o picadão aberto por João do Monte da Fonseca, chegou à região onde se encontra a cidade de Alegre uma expedição chefiada pelo capitão-mor Manoel Esteves de Lima, português, vindo de Minas Gerais à procura de terras férteis para exploração agrícola. Compunha-se de cerca de 72 pessoas, a maioria negros escravos e índios.

IV – A OCUPAÇÃO

Em sua viagem de volta, Manuel Esteves, a partir das duas barras (Itapemirim/Castelo), foi destinando aos homens de sua bandeira as terras nas quais deveriam formar fazendas, construir e manter ranchos de apoio às tropas:

Ocupante Fazenda Dias de hoje
Negro Flores Cachoeira das Flores Jerônimo Monteiro
João Gonçalves Monteiro Pombal/São Bartolomeu Rive
Jerônimo Rodrigues Ardoso São Francisco do Norte Rio Norte/ Departamento
João Teixeira da Conceição Alegre Alegre
José Luiz da Silva Viana Rio Veado Guaçuí
Justino Maria das Dores Jerusalém Celina
Manoel Esteves de Lima Papagaio/Santa Marta Jerônimo Monteiro/Ibitirama
Alferes Antônio de Paula Mageste Fazenda Abundância Final do Bairro Guararema


João Teixeira da Conceição construiu na margem do ribeirão, que hoje tem seu nome, um rancho para receber tropeiros que demandavam estas plagas. Derrubou matas, plantou cana, algodão, tabaco, milho, mandioca; construiu ranchos de apoio às tropas, formou o povoado.

Com o falecimento de João Teixeira da Conceição, em 13 de junho de 1849, seu filho Pedro Teixeira da Conceição, herdeiro das terras circundadas pelos Rios Conceição e Alegre, vendeu-as à Misael Ferreira de Paiva e Jerônimo Rodrigues Cardoso.

O Quartel dos Caçadores (onde está o Leite Parmalat hoje) deu origem ao Município e a fazenda do Conceição deu origem à Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Alegre (depois, Nossa Senhora da Penha) e à VILA, que deu origem à CIDADE.

O quartel de caçadores foi instalado na confluência do Rio Norte com o Rio Alegre (hoje, próximo ao trevo de Muniz Freire e antigo Leite Glória)

 

A Lenda

Diz a lenda que o rancho construído por Conceição tornou-se conhecido pela presença ali da cachorrinha Alegre, nome este que se estendeu ao povoado que se formava e, ao Município do qual é sede. O Período da história de Alegre entre a chegada de João do Monte da Fonseca (1811) e o ano de 1850, quando aqui chegou o primeiro padre, Francisco Alves de Carvalho, permanece obscuro, apenas iluminado por algumas lendas que ilustram fatos vividos pelos primitivos habitantes e aventureiros.

As Famílias

Somente na segunda metade do século XIX, a partir de 1857, quando foi criada a primeira sub-delegacia policial, é que se tem notícia da fixação de famílias que se tornaram tradicionais na vida econômica e política local. Entre elas podemos citar: os Ferreiras de Paiva, Gonçalves Monteiro, Azeredo Coutinho, Monteiro da Gama, Soares da Silveira, Paula Campos, Martins de Carvalho, Teixeira Alves, Quintino Leão, e, já no começo deste século, os Wanderley, Tannure, Simão, Nasser, Macedo, Sobreira, Vargas, Pinheiro, etc., muitas já desaparecidas do cenário alegrense, algumas com descendentes que aqui ainda residem, aos quais vieram juntar-se outros povoadores que trabalham juntos pelo progresso do Município.

Linha do Tempo – a partir de 1858

  • 23 de julho de 1858 – é criada a freguesia, pela Lei nº 22, sob a denominação de Nossa Senhora da Conceição do Alegre.

  • 04 de novembro de 1869 – pela Lei nº 7, o povoado recebe nova denominação — “Freguesia de Nossa Senhora da Penha do Alegre”.

  • 03 de abril de 1884 – é criado o município, pela Lei nº 18.

  • 11 de novembro de 1890 – Citado pelo decreto nº 53, desta data, é ratificado pela Lei nº 18, que o desmembra do município de Cachoeiro de Itapemirim; a mesma lei eleva o povoado à categoria de vila.

  • 06 de janeiro de 1891 – são oficialmente instalados a vila e o município.

  • 22 de dezembro de 1919 – pela Lei nº 1.208, a vila é elevada à categoria de cidade.

Fontes: Instituto Histórico e Geográfico de Alegre / Zélia Cassa de Oliveira / Instituto Jones dos Santos Neves / IPES – Diagnóstico Socio Economico Do Territorio do Caparaó

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