Janeiro Roxo é a campanha de Combate e Prevenção da Hanseníase, criada pelo Ministério da Saúde em 2016 com o objetivo informar sobre os sinais e sintomas, possibilitando o diagnóstico precoce, além de combater o estigma em torno da doença.
A dermatologista alegrense Patrícia Deps é professora do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e integra o Grupo Técnico Consultivo para Hanseníase da Organização Mundial de Saúde (OMS), desde novembro de 2022.
Seu trabalho está focado em aconselhar a diretoria-geral do órgão na implementação da Estratégia Global de Hanseníase 2021-2030, que tem, entre suas metas estabelecidas, a eliminação da transmissão da doença até 2030.
Em 2022, ela editou e lançou o livro Hanseníase na Prática Clínica, que contou com a participação de profissionais do Brasil, Portugal e Inglaterra.
Em setembro de 2023, editou o livro “Hansen’s Disease: A Complete Clinical Guide” (320 páginas), publicado em inglês pela Springer Nature e contou com a participação de 42 autores de 10 países.
Patrícia Deps explica que a hanseníase é uma doença infecto-contagiosa, causada por duas micobactérias, que afeta principalmente os nervos periféricos e a pele.
A especialista relembra que entre 2000 e 2005, houve a expectativa mundial frustrada de eliminar esta doença, que carrega um estigma histórico de preconceito.
“Ao mesmo tempo em que entendemos a hanseníase como uma doença milenar, atrelada a um forte estigma, sabemos também que é uma doença curável. Esta dualidade tem convivido por algumas décadas desde a implantação de um tratamento eficiente por meio da utilização da poliquimioterapia (PQT) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Alguns até acham que a doença não existe mais. Na contramão da eliminação da doença, fato que não ocorreu, ela também é responsável por muitas pessoas com incapacidades”, comentou.
Hanseníase no Brasil e no Espírito Santo
O Brasil é o segundo país com mais casos da doença no mundo, atrás apenas da Índia e representa 90% dos casos novos diagnosticados nas Américas.
Foram mais de 17 mil novos casos notificados em 2022, de acordo com dados da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde.
O Espírito Santo registrou 308 novos casos de hanseníase no mesmo ano, menor quantitativo da região Sudeste, seguido do Rio de Janeiro (556), São Paulo (911) e Minas Gerais, com maior número de novos registros (916).
“Por isso, é importante mobilizar a atenção de especialistas. Um dos principais desafios são em relação ao tratamento, uma vez que o agente etiológico, o Mycobacterium leprae, tem se tornado resistente aos componentes da poliquimioterapia, que são os mesmos desde 1980”, concluiu.
Diagnóstico e tratamentos em Alegre
O município de Alegre está atento aos cuidados com a Hanseníase. Segundo a Diretora Municipal de Vigilância em Saúde, Maria do Carmo, o município realizou uma série de ações por meio dos agentes de Saúde, ao longo de 2023, que incluíram orientações e testagens rápidas para moradores em situação de rua ou em condições de vulnerabilidade social.
A Diretora recomenda aos moradores que procurem uma das Unidades Básicas Saúde ou um agente de Saúde municipal, caso identifiquem algum dos seguintes sintomas:
• Manchas brancas ou avermelhadas, geralmente com perda da sensibilidade ao calor, frio, dor e tato;
• Áreas da pele aparentemente normais que têm alteração da sensibilidade e da secreção de suor;
• Caroços e placas em qualquer local do corpo;
• Diminuição da força muscular (dificuldade para segurar objetos).
Sendo constatada a necessidade, os médicos do município farão o encaminhamento para Centro de Testagem e Aconselhamento Hanseníase/Tuberculose (CTA), onde serão realizados as coletas e os exames.
Todo o tratamento é realizado pelo SUS.